sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Caminhante

O caminhante vasculhava num dos bolsos do casaco, desbotado e remendado com restos de tecidos de todas as cores e texturas, seus segredos. Sua busca era cada vez mais intensa. Em nunca encontrara seu passado.
Morava nas esquinas e conviva com os perigos da noite numa rotina conflitante. Suas companhias mudavam a todo instante por destino, acidente ou fantasia. Os que escolhiam o destino se entregavam a vida. Por acidente aos seres humanos. Os da fantasia aos seus sonhos.
Ele era um da fantasia.
Acreditava ser seu o mundo e fazia o possível para torná-lo.
Todo o dia percorria a cidade com sua figura quixotesca. Quando não cantava músicas infantis ou de amor perdido recitava trovas.
Ia de casa em casa com seu molho de chaves, que era a extensão de seu corpo, de várias formas, tamanhos e cores com a intenção de encontrar parte de sua história.
Seu simples objetivo era encontrar uma porta que o acolhesse e pudesse afirmar que ali era sua morada. Mas, as pessoas achavam estranho um sujeito daqueles querer entrar em seu seio familiar. Alguém que devido aos vários sofrimentos possuía um o andar pesado, a tez suja e o a imaginação fértil.
Nada o impedia de construir sua busca fantástica. Em cada porta um afeto, cada acolhida uma esperança. E a certeza que sua aventura só acabaria com o final de suas forças, não por desistir. Por saber que na vida temos uma única e dolorosa certeza: da morte.
Assim como era corajoso, era acessível. Bastava um simples consentimento com a cabeça para torná-lo íntimo. Percebia a necessidade de qualquer pessoa num gesto. Quem mais haveria de saber do que aquele que encarava de perto todas as dores e sofrimentos de uma vida pesada?

“Meu Lírio despetalado
De amor e de afeição
Quero ver, quem tem medo
De se entregar ao coração”

Sabia conquistar as pessoas, e pesava fundo com suas palavras nos sentimentos alheios.
Cada porta fechada era a solidão lhe abraçando. O mundo se tornava mais real.
Desistir jamais!!
O mundo é um pedaço de tempo a ser percorrido por seus desejos de futuro.
E caminhava...


Marckson de moraes
09/05/2010

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