Encontrei uma na praça. A outra na rua, aos redores da praça. Por algum motivo tínhamos de nos encontrar. Destino. Sina. Acaso. Coincidência. Algo, que não sei explicar o que, nos uniu naquele pequeno espaço de tempo.
Uma sempre na presença da outra. Mesmo a quilômetros de distância. Existi um algo que as uni. Um cordão umbilical. Se vires uma com certeza sentirás a presença da outra. O cheiro de uma exala o da outra.
Elas pouco se encontravam, mas quando seus corpos ocupavam o mesmo espaço o mundo se tornava pequeno, do tamanho da conta de um colar de uma. E o tempo congelava em um relógio da outra. Seriam importantes, naquele instante, apenas as duas. O seu encontro.
Brigavam. E como brigavam. Só se briga com quem se ama.
Sentiam ciúmes. Muitos ciúmes. Uma da inteligência da outra, ou outra da inocência de uma. Mas se completavam. Yin Yang, sol e chuva, vida e morte. Sem dúvidas precisavam uma da outra e seriam capazes de matar e morrer.
E eu assistia aquilo com tanta alegria, pois, eu tinha me tornado uma espécie robótica de ser humano, sem sonhos e voltado às necessidades básicas que precisamos. Comer, beber, dormir, trabalhar. Fazer coisas comuns, ser uma pessoa comum. Como a vida. Minha vida. Estava definitivamente preso a uma rotina sufocante. E digo aquilo, assim alheio, por não saber como denominar exatamente esse sentimento existente entre ambas. Não é somente amor, mas, algo metafísico.
Então quando uma tocou minha alma e a outra o meu juízo. Borboletas percorreram meu corpo e saiam por meus cabelos. O ar que invadiu meus pulmões tinha um cheiro sândalo. Ao vê-las toda e qualquer luz existente entre nós era âmbar. Nada podia afastá-las de mim e eu estava completamente preso a elas e me entreguei tão intensamente aos seus sentimentos que meu coração explodiu em lágrimas. Meus olhos declaravam que eu sentia um prazer incontestável em encontrá-las. Algo que há tempos meu corpo desconhecia. Que durou pouco. Seis meses aqui. E eternamente com elas aonde forem.
26/09/09.
Marckson de Moraes.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Meu destino
Ventos do Norte
Guiam barcos.
Conduzem marés.
Ares do Sul
Transportam nuvens.
Carregam pássaros.
Brisas do Leste
Derramam orvalho.
Diluem florestas.
Tempestades do oeste
Desenham desertos.
Lapidam montanhas.
Sou conduzido
carregado
diluído
lapidado a você.
22/02/2010
Marckson de moraes
Drico
Dançava e delirava em pensamentos carregados
como nuvens.
Caminhava e cantava por ruas desertas a procura de alguém
que voasse.
Te encontrei.
Sorrio e suspiro por teu cheiro doce
de cravo.
20/02/2010
Marckson de moraes
como nuvens.
Caminhava e cantava por ruas desertas a procura de alguém
que voasse.
Te encontrei.
Sorrio e suspiro por teu cheiro doce
de cravo.
20/02/2010
Marckson de moraes
Sempre depois da chuva
A vidraça do
bar voltou a ficar manchada pela água embaçada de uma poça que havia bem na
esquina. Armadilha fácil pra qualquer desavisado que não conhecesse aquele
metro quadrado, ou curioso que por acaso parasse para apreciar o movimento do
estabelecimento muito frequentado por mais variada clientela.
Era um bar de
centro da cidade, desses bares de paredes manchadas e cheiros encravados.
Prédio antigo, fascinante, guardava tanta história que chegara a ter vida própria.
Recanto de boêmios, artistas, prostitutas, amantes e solitários.
Como Luísa.
Mulher misteriosa. Pedia sempre a mesma bebida, no mesmo lugar, no mesmo
horário. Rotineiramente. Pontualidade britânica. Sempre depois da chuva.
Quando o sol
transpassava o último par de vitrais do alto da janela esquerda e refletia na
prateleira de cristais, que guardava os conhaques, uísques e licores, um raio
luminoso rebatia bem na direção de Luísa. E ficava aquela mulher tomando seu
gim com sua luz própria. Seu foco a quarenta-e-cinco-graus. Seus olhos
brilhavam tão intensamente quanto os cubos de gelo no copo. E sua alma nesse
exato momento ficava translúcida como sua bebida.
Luísa era
mais uma adotada por Madrinha, a dona do bar. Senhora de meia idade batizada
assim pelas putas do entorno que viam nela uma mãe, amiga e companheira. Não
que Luísa não tivesse casa, viva até bem. Possuía um apartamento de dois
quartos com varanda que dava para praça da república. Bem mobiliado e amplo.
Seu tempo
naquele bar se limitava aos fins de tarde. Tomava duas ou três doses calmamente
como se esperasse alguém. Uma amiga que não via há tempos, um parente aflito
por problemas familiares ou quem sabe um amor.
No começo as
pessoas estranharam. Ficou conhecida como a doida do chapéu. Por causa do seu
chapéu à zamparina, afinal todos eram curiosos. Uma proteção ou um charme? E
como num ritual, reza a etiqueta, tirava seu chapéu ao sentar e o colocava em
seu colo, tudo delicadamente desenhado. Os passos, a respiração, o sentar, a
postura, o beber, olhar pra rua e o esperar.
Com o passar
do tempo Luísa tornou-se parte daquele bar. Uma pintura dramática e vibrante
que decorava aquele ambiente. O mesmo gim, a mesma luz, o mesmo chapéu, quem
sabe até a mesma roupa. Seria Luísa uma louca?
Nunca a viram
com ninguém. Nem filhos, irmãos, amigos, nada. Segundo madrinha sua voz é leve
e terna. Parecia voz de professora. A única vez que se ouvia sua voz era para
pedir uma dose de gim e dois cubos de gelo.
Chegou a
fazer-se um bolão de apostas sobre sua profissão, secretária, aeromoça,
telefonista, até de puta aposentada com saudades da profissão ela foi
classificada.
Luísa, uma
figura incógnita que visitava aquele bar dentre as várias que circulavam por
lá. algumas às vezes paravam, outras só olhavam. Tinham os que mudavam de
calçada ao perceber que aquela fachada estupendamente gloriosa era a do famoso
bar.
Luísa adorava
aquele estabelecimento. Sentia-se a vontade, ria poucas vezes, não se sabe por
quê. Seus olhos aguardavam ansiosos para encontrar alguém. Estrategicamente
sentava onde sua visão seria ampla o suficiente para acompanhar os movimentos
internos e externos no bar.
E todos os
dias a mesma coisa: o chapéu, o gim, o sol.
Certo dia de
sol, não choveu. Dia atípico. Apenas uma leve brisa âmbar desenhava a silhueta
dos muros e prédios daquela cidade nortista e perfumou com chuva o asfalto
quente que descolava nos sapatos das pessoas.
Neste dia
Luísa trocou seu vestido. Dessa vez sem chapéu com uma bolsa pequena e
charmosa. Estava com um penteado bem armado e delicado. Elegantíssima. Pediu uísque.
Dose dupla, On the rock! Observou o
cubo de gelo derreter no fundo do copo antes de beber o último gole. Seco.
Rápido. Olhou o copo vazio, agradeceu a madrinha, perguntou pelo banheiro e
caminhou em direção a ele. Cantarolava uma canção e apertou a minúscula bolsa
como uma criança ao matar um passarinho com as próprias mãos. Abriu a porta,
respirou fundo e olhou pra rua. Ninguém familiar a ela apareceu naquele
instante.
A porta se
fechou e um tiro calou a agitação de todos no bar.
Marckson de Moraes – 08/02/2010.
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