segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sabe, people!!

Encontrei uma na praça. A outra na rua, aos redores da praça. Por algum motivo tínhamos de nos encontrar. Destino. Sina. Acaso. Coincidência. Algo, que não sei explicar o que, nos uniu naquele pequeno espaço de tempo.

Uma sempre na presença da outra. Mesmo a quilômetros de distância. Existi um algo que as uni. Um cordão umbilical. Se vires uma com certeza sentirás a presença da outra. O cheiro de uma exala o da outra.
Elas pouco se encontravam, mas quando seus corpos ocupavam o mesmo espaço o mundo se tornava pequeno, do tamanho da conta de um colar de uma. E o tempo congelava em um relógio da outra. Seriam importantes, naquele instante, apenas as duas. O seu encontro.
Brigavam. E como brigavam. Só se briga com quem se ama.
Sentiam ciúmes. Muitos ciúmes. Uma da inteligência da outra, ou outra da inocência de uma. Mas se completavam. Yin Yang, sol e chuva, vida e morte. Sem dúvidas precisavam uma da outra e seriam capazes de matar e morrer.
E eu assistia aquilo com tanta alegria, pois, eu tinha me tornado uma espécie robótica de ser humano, sem sonhos e voltado às necessidades básicas que precisamos. Comer, beber, dormir, trabalhar. Fazer coisas comuns, ser uma pessoa comum. Como a vida. Minha vida. Estava definitivamente preso a uma rotina sufocante. E digo aquilo, assim alheio, por não saber como denominar exatamente esse sentimento existente entre ambas. Não é somente amor, mas, algo metafísico.
Então quando uma tocou minha alma e a outra o meu juízo. Borboletas percorreram meu corpo e saiam por meus cabelos. O ar que invadiu meus pulmões tinha um cheiro sândalo. Ao vê-las toda e qualquer luz existente entre nós era âmbar. Nada podia afastá-las de mim e eu estava completamente preso a elas e me entreguei tão intensamente aos seus sentimentos que meu coração explodiu em lágrimas. Meus olhos declaravam que eu sentia um prazer incontestável em encontrá-las. Algo que há tempos meu corpo desconhecia. Que durou pouco. Seis meses aqui. E eternamente com elas aonde forem.

26/09/09.
Marckson de Moraes.

Meu destino

Ventos do Norte
Guiam barcos.
Conduzem marés.
Ares do Sul
Transportam nuvens.
Carregam pássaros.
Brisas do Leste
Derramam orvalho.
Diluem florestas.
Tempestades do oeste
Desenham desertos.
Lapidam montanhas.
Sou conduzido
carregado
diluído
lapidado a você.



22/02/2010
Marckson de moraes

Drico

Dançava e delirava em pensamentos carregados
como nuvens.
Caminhava e cantava por ruas desertas a procura de alguém
que voasse.
Te encontrei.
Sorrio e suspiro por teu cheiro doce
de cravo.


20/02/2010
Marckson de moraes
Durmo...

Acordo com teu cheiro,
Teus beijos,
Nosso desejo.

Morfeu me encanta.
Eros me fortalece.

Sinto...
Em minhas veias sangue*,
Em meu corpo vida,
Na minha alma esperança.

Hades sucumbiu.
Afrodite brilhou.

Quero...
Te ver,
Te ter,
Viver.


08/02/2010.
Marckson de moraes.

Sempre depois da chuva


A vidraça do bar voltou a ficar manchada pela água embaçada de uma poça que havia bem na esquina. Armadilha fácil pra qualquer desavisado que não conhecesse aquele metro quadrado, ou curioso que por acaso parasse para apreciar o movimento do estabelecimento muito frequentado por mais variada clientela.

Era um bar de centro da cidade, desses bares de paredes manchadas e cheiros encravados. Prédio antigo, fascinante, guardava tanta história que chegara a ter vida própria. Recanto de boêmios, artistas, prostitutas, amantes e solitários.

Como Luísa. Mulher misteriosa. Pedia sempre a mesma bebida, no mesmo lugar, no mesmo horário. Rotineiramente. Pontualidade britânica. Sempre depois da chuva.

Quando o sol transpassava o último par de vitrais do alto da janela esquerda e refletia na prateleira de cristais, que guardava os conhaques, uísques e licores, um raio luminoso rebatia bem na direção de Luísa. E ficava aquela mulher tomando seu gim com sua luz própria. Seu foco a quarenta-e-cinco-graus. Seus olhos brilhavam tão intensamente quanto os cubos de gelo no copo. E sua alma nesse exato momento ficava translúcida como sua bebida.

Luísa era mais uma adotada por Madrinha, a dona do bar. Senhora de meia idade batizada assim pelas putas do entorno que viam nela uma mãe, amiga e companheira. Não que Luísa não tivesse casa, viva até bem. Possuía um apartamento de dois quartos com varanda que dava para praça da república. Bem mobiliado e amplo.

Seu tempo naquele bar se limitava aos fins de tarde. Tomava duas ou três doses calmamente como se esperasse alguém. Uma amiga que não via há tempos, um parente aflito por problemas familiares ou quem sabe um amor.

No começo as pessoas estranharam. Ficou conhecida como a doida do chapéu. Por causa do seu chapéu à zamparina, afinal todos eram curiosos. Uma proteção ou um charme? E como num ritual, reza a etiqueta, tirava seu chapéu ao sentar e o colocava em seu colo, tudo delicadamente desenhado. Os passos, a respiração, o sentar, a postura, o beber, olhar pra rua e o esperar.

Com o passar do tempo Luísa tornou-se parte daquele bar. Uma pintura dramática e vibrante que decorava aquele ambiente. O mesmo gim, a mesma luz, o mesmo chapéu, quem sabe até a mesma roupa. Seria Luísa uma louca?

Nunca a viram com ninguém. Nem filhos, irmãos, amigos, nada. Segundo madrinha sua voz é leve e terna. Parecia voz de professora. A única vez que se ouvia sua voz era para pedir uma dose de gim e dois cubos de gelo.

Chegou a fazer-se um bolão de apostas sobre sua profissão, secretária, aeromoça, telefonista, até de puta aposentada com saudades da profissão ela foi classificada.

Luísa, uma figura incógnita que visitava aquele bar dentre as várias que circulavam por lá. algumas às vezes paravam, outras só olhavam. Tinham os que mudavam de calçada ao perceber que aquela fachada estupendamente gloriosa era a do famoso bar.

Luísa adorava aquele estabelecimento. Sentia-se a vontade, ria poucas vezes, não se sabe por quê. Seus olhos aguardavam ansiosos para encontrar alguém. Estrategicamente sentava onde sua visão seria ampla o suficiente para acompanhar os movimentos internos e externos no bar.

E todos os dias a mesma coisa: o chapéu, o gim, o sol.

Certo dia de sol, não choveu. Dia atípico. Apenas uma leve brisa âmbar desenhava a silhueta dos muros e prédios daquela cidade nortista e perfumou com chuva o asfalto quente que descolava nos sapatos das pessoas.

Neste dia Luísa trocou seu vestido. Dessa vez sem chapéu com uma bolsa pequena e charmosa. Estava com um penteado bem armado e delicado. Elegantíssima. Pediu uísque. Dose dupla, On the rock! Observou o cubo de gelo derreter no fundo do copo antes de beber o último gole. Seco. Rápido. Olhou o copo vazio, agradeceu a madrinha, perguntou pelo banheiro e caminhou em direção a ele. Cantarolava uma canção e apertou a minúscula bolsa como uma criança ao matar um passarinho com as próprias mãos. Abriu a porta, respirou fundo e olhou pra rua. Ninguém familiar a ela apareceu naquele instante.

A porta se fechou e um tiro calou a agitação de todos no bar.





Marckson de Moraes – 08/02/2010.