sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Florbela Espanca

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma.

Quem tem alma não tem calma.

Quem vê é só o que vê,

Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e não eu.

Cada meu sonho ou desejo

É do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem;

Assisto à minha passagem,

Diverso, móbil e só,

Não sei sentir-me onde estou.



Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser.

O que segue não prevendo,

O que passou a esquecer.

Noto à margem do que li

O que julguei que senti.

Releio e digo : "Fui eu ?"

Deus sabe, porque o escreveu.


Fernando Pessoa

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Sinto

sinto
que em minhas veias arde
sangue
chama rubra que vai cozinhando
minhas paixões em meu coração.

mulheres, por favor,
derramai água:
quando tudo se queima
só as fagulhas
 voam ao vento

Garcia Lorca.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Não consegui resistir...

A vontade de sair de mim
Foi mais forte que a necessidade de viver.

Senti a vida escorrer
Tudo ficou escuro.

Sai dos braços de Caronte
E cai em teu peito.

Renasci.

Como Eros tu me resgataste
Sou homem (de) novo.

07/11/2009.
marckson de moraes